O Esquema #1
Não sou um grande leitor de Jornais, sou antes uma espécie de anacoreta da informação. Mantenho uma dieta expressamente subnutrida de informação e de textos excessivamente intelectuais. Preservo assim alguma ingenuidade e alguma capacidade de surpresa perante o mundo. Em suma, sou um ignorante convicto. Quando me propus começar este blog propus-me ingenuamente, senão a retratar o esquema em traços claros (tarefa muito acima da minha capacidade), pelo menos a esboçar em traços toscos alguns aspectos do esquema, e é claro tive que abandonar parte da minha dieta de informação.
Ontem comprei o jornal O Público que relutantemente li, parando com agrado nas minhas secções preferidas: Bartoon e Calvin & Hobbes (é assim que eu sou). Claro que a pouco e pouco acabei por folhear o resto do jornal (quem mantém dieta tem sempre um apetite redobrado). Na página 26 deparei com uma notícia intitulada Professora de Filosofia na Vice-presidência do Instituto do Consumidor assinada pela jornalista Mariana Oliveira, estava já por essa altura bem enfronhado no jornal: secção Sociedade. A notícia começava com "O Governo de Santana Lopes nomeou para a vice-presidência do Instituto do Consumidor uma licenciada em Ensino da Filosofia, sem formação na área do consumo nem qualquer experiência no sector.", não particularmente apetitoso ou fora do normal para um assíduo leitor de jornais, acredito, mas têm que lembrar-se da minha faminta condição, e assim continuei.
Foi apenas no segundo parágrafo que as minhas antenas embotadas começaram finalmente a pressentir a presença do esquema e "noblesse oblige", lá li eu o resto do artigo para infortúnio dos poucos que aqui vierem parar. Pois saibam que "A escolhida, Eduarda Maria Gomes Marques, é uma militante do PSD que integrou em Julho de 2002, juntamente com o governante que a nomeou, e ambos como vogais, a comissão política nacional do partido. Tem 35 anos de idade, é licenciada em Ensino da Filosofia, pelo pólo de Braga da Universidade Católica Portuguesa, e foi requisitada para o Instituto do Consumidor numa comissão de serviço de três anos. O cargo que exerce está equiparado ao de subdirector-geral, o que lhe dá direito a uma remuneração-base de mais de 2800 euros mensais", citando o artigo.
A jornalista alude também ao curriculum vitae da candidata que "refere que teve como experiência profissional a docência de várias disciplinas na Associação Comercial e Industrial de Guimarães, de onde é natural, e no Instituto de Emprego e Formação Profissional da zona. Diz ainda que foi "directora de turma; membro da elaboração e correcção das provas globais de Introdução à Filosofia do 10.º ano; membro da elaboração dos exames de equivalência à frequência de Introdução à Filosofia dos 10.º e 11.º anos; correcção do exame nacional de filosofia do 12.º ano" e ainda "frequência em acções de formação na área da educação e do conhecimento" e a "colaboração e coordenação em diversos projectos pedagógicos". O capítulo da experiência profissional termina com a referência de que Eduarda Marques fazia parte da direcção da Cooperativa Movijovem, como vogal, desde Julho de 2003."
Há alguém que me esteja a ler e que sinta neste momento que ter investido num cartão do PSD à dois anos atrás poderia ter resolvido a dívida do carro, da casa, e ainda ter feito um brilhante acrescento ao seu curriculum vitae que poderia significar nunca mais ter problemas de emprego, mesmo que não se fizesse "a ponta de um corno" neste? Bem...não é esse o objectivo deste texto, desculpem.
Pois fiquem sabendo já que não sabem ler curricula (Ena pá! Isto é o plural de curriculum! E em latim! Onde será que eu, ignorante, aprendi isto?) . O trabalho jornalístico é completo (e com uma pontinha bem temperada de ironia pedagógica) pois cita a justificação do ex-ministro Henrique Chaves para a contratação: "a licenciada Eduarda Maria Gomes Marques reúne capacidades pessoais e técnicas, a que associa qualificada formação e experiência, decorrentes do desempenho, ao longo da sua carreira, de funções técnicas e de formação, coordenação e organização de recursos, nomeadamente no sector cooperativo, que permitem concluir pelo seu adequado perfil para o exercício do cargo". É assim que se lê o dito curriculum vitae, e fico desde já satisfeito pela função pedagógica deste texto. Mas, não é este ainda o objectivo do texto e se não desistiram até aqui já falta pouco.
Eis um esboço possível do esquema (a ser traçado por melhores artistas): quantos empregos terá dado Santana Lopes a militantes do PSD desde o ínicio do seu mandato? O quadro final poderia intitular-se: "O segredo da esmagadora maioria que Santana Lopes obteve no congresso do PSD". Mas, que sei eu? Os esquemas reais estão provavelmente acima da minha limitada destreza para lhes captar os traços: são imagens fugidias.
Ontem comprei o jornal O Público que relutantemente li, parando com agrado nas minhas secções preferidas: Bartoon e Calvin & Hobbes (é assim que eu sou). Claro que a pouco e pouco acabei por folhear o resto do jornal (quem mantém dieta tem sempre um apetite redobrado). Na página 26 deparei com uma notícia intitulada Professora de Filosofia na Vice-presidência do Instituto do Consumidor assinada pela jornalista Mariana Oliveira, estava já por essa altura bem enfronhado no jornal: secção Sociedade. A notícia começava com "O Governo de Santana Lopes nomeou para a vice-presidência do Instituto do Consumidor uma licenciada em Ensino da Filosofia, sem formação na área do consumo nem qualquer experiência no sector.", não particularmente apetitoso ou fora do normal para um assíduo leitor de jornais, acredito, mas têm que lembrar-se da minha faminta condição, e assim continuei.
Foi apenas no segundo parágrafo que as minhas antenas embotadas começaram finalmente a pressentir a presença do esquema e "noblesse oblige", lá li eu o resto do artigo para infortúnio dos poucos que aqui vierem parar. Pois saibam que "A escolhida, Eduarda Maria Gomes Marques, é uma militante do PSD que integrou em Julho de 2002, juntamente com o governante que a nomeou, e ambos como vogais, a comissão política nacional do partido. Tem 35 anos de idade, é licenciada em Ensino da Filosofia, pelo pólo de Braga da Universidade Católica Portuguesa, e foi requisitada para o Instituto do Consumidor numa comissão de serviço de três anos. O cargo que exerce está equiparado ao de subdirector-geral, o que lhe dá direito a uma remuneração-base de mais de 2800 euros mensais", citando o artigo.
A jornalista alude também ao curriculum vitae da candidata que "refere que teve como experiência profissional a docência de várias disciplinas na Associação Comercial e Industrial de Guimarães, de onde é natural, e no Instituto de Emprego e Formação Profissional da zona. Diz ainda que foi "directora de turma; membro da elaboração e correcção das provas globais de Introdução à Filosofia do 10.º ano; membro da elaboração dos exames de equivalência à frequência de Introdução à Filosofia dos 10.º e 11.º anos; correcção do exame nacional de filosofia do 12.º ano" e ainda "frequência em acções de formação na área da educação e do conhecimento" e a "colaboração e coordenação em diversos projectos pedagógicos". O capítulo da experiência profissional termina com a referência de que Eduarda Marques fazia parte da direcção da Cooperativa Movijovem, como vogal, desde Julho de 2003."
Há alguém que me esteja a ler e que sinta neste momento que ter investido num cartão do PSD à dois anos atrás poderia ter resolvido a dívida do carro, da casa, e ainda ter feito um brilhante acrescento ao seu curriculum vitae que poderia significar nunca mais ter problemas de emprego, mesmo que não se fizesse "a ponta de um corno" neste? Bem...não é esse o objectivo deste texto, desculpem.
Pois fiquem sabendo já que não sabem ler curricula (Ena pá! Isto é o plural de curriculum! E em latim! Onde será que eu, ignorante, aprendi isto?) . O trabalho jornalístico é completo (e com uma pontinha bem temperada de ironia pedagógica) pois cita a justificação do ex-ministro Henrique Chaves para a contratação: "a licenciada Eduarda Maria Gomes Marques reúne capacidades pessoais e técnicas, a que associa qualificada formação e experiência, decorrentes do desempenho, ao longo da sua carreira, de funções técnicas e de formação, coordenação e organização de recursos, nomeadamente no sector cooperativo, que permitem concluir pelo seu adequado perfil para o exercício do cargo". É assim que se lê o dito curriculum vitae, e fico desde já satisfeito pela função pedagógica deste texto. Mas, não é este ainda o objectivo do texto e se não desistiram até aqui já falta pouco.
Eis um esboço possível do esquema (a ser traçado por melhores artistas): quantos empregos terá dado Santana Lopes a militantes do PSD desde o ínicio do seu mandato? O quadro final poderia intitular-se: "O segredo da esmagadora maioria que Santana Lopes obteve no congresso do PSD". Mas, que sei eu? Os esquemas reais estão provavelmente acima da minha limitada destreza para lhes captar os traços: são imagens fugidias.
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