O Esquema
Falta talvez esclarecer uma coisa. Os poucos leitores que este blogue tem poderiam ficar com a impressão errada que se trata de um blogue de política; não estariam longe da verdade, num sentido lato, porque tudo o que afecta a vida do Homem em sociedade é na verdade política, salvaguardando as distinções de escala que distinguem política familiar, política de bairro, política local e política nacional, e no mundo global em que vivemos, política europeia e política mundial; talvez um dia política galáctica, mas este blogue terá deixado de existir há muitos anos.
Mas, mais que tudo, por respeito aos leitores, convém esclarecer quais as razões que imperaram a escolha do título “O Esquema”. E fazê-lo em palavras menos encriptadas do que as do magnífico poema de Geir Campos, que servem de mote ao blogue. A interpretação dos poemas depende de forma determinante (esse é o sublime trabalho do poeta) da sensibilidade do leitor.
O esquema, na minha opinião, é o estado que melhor define o sentimento humano perante o mundo. Não se refere a uma qualquer teoria da conspiração como o “...avisar os outros quanto é falso;” do poema pode gerar como interpretação, mas ao facto de que todos os esquemas são falsos (porque são uma falsificação da coisa real) e ao mesmo tempo indispensáveis ao Homem; o mapa sem o qual a vida se tornaria um absurdo incompreensível e a existência humana insuportável. Os canais de Marte e a face humana da Lua fazem parte do esquema.
É nesse sentido que o subtítulo “Horóscopos, concursos, televisão e outras artes de adivinhação...” aponta. Desde sempre o homem procura o mapa que nunca existiu, o horóscopo, o oráculo, a visita divina, os sinais. A existência simbólica do homem força-o a procurar símbolos (significados) em tudo o que o rodeia. E encontra-os, apesar da natureza inumana do universo. Isto porque a inteligência e imaginação criam ligações (esquemas) que tornam perceptível ao Homem simbólico um universo que é insensível aos símbolos humanos e ao próprio Homem.
A descrença do Homem no divino e nos seus sinais acarretou para as sociedades humanas, provavelmente, a maior crise desde que o Homem tomou pela primeira vez consciência da sua natureza simbólica e consequentemente religiosa lato sensu, ou mais rigorosamente, mágica.
O homem continua a ter necessidade de conseguir determinar a sua existência, de distinguir no caos o esquema das coisas, de sentir que possui o poder de prever e influenciar de algum modo o caudal dos acontecimentos que o arrastam.
O sentimento mágico e religioso foi substituido por outras formas, inúmeras e cada vez mais diversificadas, de aceder ao esquema. As televisões (os media em geral) fornecem-nos uma quantidade de informação diária impossível de processar, consumida sem tempo para digestão, inconsequente e inútil, mas que por outro lado nos confere uma sensação confortável de acesso, ainda que ténue, ao esboço do esquema.
O esquema é também o caminho de saída para uma existência incompreensível, que passa pelos mais diversos estereotipos, mas inclui geralmente a caminhada para uma situação de poder (o poder de romper as malhas dos esquemas instalados por outros, agrupados sob a classificação de “sistema”). Esse poder está vulgarmente associado na nossa sociedade a poder económico. O concurso representa, neste sentido, o substituto moderno do milagre, ou na linguagem do conto de fadas, o casamento da menina pobre com o príncipe encantado, a fuga à vida impotente, a felicidade eterna.
No fundo é um blogue sobre mitos, mas sobre mitos modernos, cuja permanência pode não ir mais longe que os três meses de uma campanha eleitoral; “...dizer também que são coisas mutáveis...”. Pretende ser tão efémero e mutável como a realidade; o que se escreve hoje é letra morta amanhã. Assim é o ritmo das coisas e assim é o ritmo da busca de esquemas que nos permitem tornar perceptível o caos e o absurdo da realidade. A procura do esquema é a muito humana busca de viver humanamente.
O esquema é tudo e não é nada, como o ar que respiramos, não tem existência palpável. Aqui, posto em palavras, é menos que nada, arrancado à sua essência e arranjado em frases, poemas, obscenidades e coisas vagas. Isto é de facto um blogue sobre nada, em palavras trôpegas.
Mas, mais que tudo, por respeito aos leitores, convém esclarecer quais as razões que imperaram a escolha do título “O Esquema”. E fazê-lo em palavras menos encriptadas do que as do magnífico poema de Geir Campos, que servem de mote ao blogue. A interpretação dos poemas depende de forma determinante (esse é o sublime trabalho do poeta) da sensibilidade do leitor.
O esquema, na minha opinião, é o estado que melhor define o sentimento humano perante o mundo. Não se refere a uma qualquer teoria da conspiração como o “...avisar os outros quanto é falso;” do poema pode gerar como interpretação, mas ao facto de que todos os esquemas são falsos (porque são uma falsificação da coisa real) e ao mesmo tempo indispensáveis ao Homem; o mapa sem o qual a vida se tornaria um absurdo incompreensível e a existência humana insuportável. Os canais de Marte e a face humana da Lua fazem parte do esquema.
É nesse sentido que o subtítulo “Horóscopos, concursos, televisão e outras artes de adivinhação...” aponta. Desde sempre o homem procura o mapa que nunca existiu, o horóscopo, o oráculo, a visita divina, os sinais. A existência simbólica do homem força-o a procurar símbolos (significados) em tudo o que o rodeia. E encontra-os, apesar da natureza inumana do universo. Isto porque a inteligência e imaginação criam ligações (esquemas) que tornam perceptível ao Homem simbólico um universo que é insensível aos símbolos humanos e ao próprio Homem.
A descrença do Homem no divino e nos seus sinais acarretou para as sociedades humanas, provavelmente, a maior crise desde que o Homem tomou pela primeira vez consciência da sua natureza simbólica e consequentemente religiosa lato sensu, ou mais rigorosamente, mágica.
O homem continua a ter necessidade de conseguir determinar a sua existência, de distinguir no caos o esquema das coisas, de sentir que possui o poder de prever e influenciar de algum modo o caudal dos acontecimentos que o arrastam.
O sentimento mágico e religioso foi substituido por outras formas, inúmeras e cada vez mais diversificadas, de aceder ao esquema. As televisões (os media em geral) fornecem-nos uma quantidade de informação diária impossível de processar, consumida sem tempo para digestão, inconsequente e inútil, mas que por outro lado nos confere uma sensação confortável de acesso, ainda que ténue, ao esboço do esquema.
O esquema é também o caminho de saída para uma existência incompreensível, que passa pelos mais diversos estereotipos, mas inclui geralmente a caminhada para uma situação de poder (o poder de romper as malhas dos esquemas instalados por outros, agrupados sob a classificação de “sistema”). Esse poder está vulgarmente associado na nossa sociedade a poder económico. O concurso representa, neste sentido, o substituto moderno do milagre, ou na linguagem do conto de fadas, o casamento da menina pobre com o príncipe encantado, a fuga à vida impotente, a felicidade eterna.
No fundo é um blogue sobre mitos, mas sobre mitos modernos, cuja permanência pode não ir mais longe que os três meses de uma campanha eleitoral; “...dizer também que são coisas mutáveis...”. Pretende ser tão efémero e mutável como a realidade; o que se escreve hoje é letra morta amanhã. Assim é o ritmo das coisas e assim é o ritmo da busca de esquemas que nos permitem tornar perceptível o caos e o absurdo da realidade. A procura do esquema é a muito humana busca de viver humanamente.
O esquema é tudo e não é nada, como o ar que respiramos, não tem existência palpável. Aqui, posto em palavras, é menos que nada, arrancado à sua essência e arranjado em frases, poemas, obscenidades e coisas vagas. Isto é de facto um blogue sobre nada, em palavras trôpegas.
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