Palavras para quê?
Escreve Pedro Urbano, na edição do Público de Quarta-Feira, um texto temperado da ironia genuinamente característica da alma portuguesa. Eis um fragmento:
"É isso, tens que fazer alguma coisa. Votar, por exemplo. (Não, o Partido da Abstenção não pode governar, mesmo com maioria absoluta. Sim, votar faz-te doer a alma e faz-te sentir sujo e conivente com toda a nojeira. Também as vacinas doem, não há nada a fazer; se a alma te inchar, desinfecta com álcool e junta-lhe um pouco de gelo; acabará por passar.) Deixa-te de criancices, vota. Vota nos pequenos partidos se ainda acreditas nesta República e queres morrer acreditando nela; não servirá de grande coisa mas, pelo menos, cumpriste a tua obrigação e ficarás de bem com a tua consciência. Vota num dos dois grandes, se deixaste de acreditar nela; depressa a liquidarão. E se detestas o mundo e toda a gente e ainda não resolveste a tua moratória da adolescência, vota nos anõezinhos perversos; nunca hão-de governar (seja o que for) nos próximos dez mil anos, mas conseguem chatear toda a gente. (Seja como for, são como a erva daninha: arranca-se de um lado, nasce do outro.)"
"É isso, tens que fazer alguma coisa. Votar, por exemplo. (Não, o Partido da Abstenção não pode governar, mesmo com maioria absoluta. Sim, votar faz-te doer a alma e faz-te sentir sujo e conivente com toda a nojeira. Também as vacinas doem, não há nada a fazer; se a alma te inchar, desinfecta com álcool e junta-lhe um pouco de gelo; acabará por passar.) Deixa-te de criancices, vota. Vota nos pequenos partidos se ainda acreditas nesta República e queres morrer acreditando nela; não servirá de grande coisa mas, pelo menos, cumpriste a tua obrigação e ficarás de bem com a tua consciência. Vota num dos dois grandes, se deixaste de acreditar nela; depressa a liquidarão. E se detestas o mundo e toda a gente e ainda não resolveste a tua moratória da adolescência, vota nos anõezinhos perversos; nunca hão-de governar (seja o que for) nos próximos dez mil anos, mas conseguem chatear toda a gente. (Seja como for, são como a erva daninha: arranca-se de um lado, nasce do outro.)"
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