sexta-feira, dezembro 31, 2004

Feliz Ano Novo

Um ano novo sem lições de moral:
no ano que passou não fomos bem
nem fomos mal.
Como de costume a sorte votou
uns quantos à morte, uns quantos à vida,
uns para santos, outros tantos homicidas e
nada mudou...e tudo mudou.
No ano novo que aí vem esperamos,
como sempre, a perfeita medida:
X por cento de harmonia e Y por cento de paz.
No ano novo nova vida!
Só nos falta descobrir como se faz.

Onde não chega a memória

No fim somos todos loucos:
dedicamos exagerada atenção às pequenas coisas.
Há lá coisas pequenas na escala humana!
Enlouquecemos aos berros em torno de uma
pista de carros de brincar. Porque nos enfurecem
os pequenos gestos que a podem estragar?
S-U-R-P-R-E-E-N-D-E-N-T-E !
No fim somos todos loucos,
as razões da desrazão enterradas onde
não chega a memória. Ou a memória mente!
Porque nos assusta tanto a loucura dos outros?
Conhecemos a nossa assim tão profundamente?

quinta-feira, dezembro 30, 2004

Tarefa

Morder o fruto amargo e não cuspir
mas avisar aos outros quanto é amargo,
cumprir o trato injusto e não falhar
mas avisar aos outros quanto é injusto,
sofrer o esquema falso e não ceder
mas avisar aos outros quanto é falso;
dizer também que são coisas mutáveis...
E quando em muitos a noção pulsar
— do amargo e injusto e falso por mudar —
então confiar à gente exausta o plano
de um mundo novo e muito mais humano.

Geir Campos in "Geir Campos - Antologia Poética", Léo Christiano Editorial Ltda. - Rio de Janeiro, 2003, pág. 89, organizada por Israel Pedrosa.