domingo, fevereiro 13, 2005

Estes últimos defensores do Homem

É bem verdade que é preciso morrer para se entrar definitivamente na memória das gentes. E digo isto porque, habituado a encontrar na rede fragmentos dos livros que leio, quando se trata de autores mortos, quando se trata de autores contemporâneos, onde um “copy paste” me poderia ajudar a partilhar a impressão que me deixaram, não há vestígio, excepto no que toca a umas miseras frases bibliográficas. Imagino que sejam os famosos direitos autorais, uma vez mais a privar os leitores do acesso a uma educação que se quer apenas para os portadores de IRS, com conta suficientemente choruda ao fim do mês para permitir a compra dos virginais textos, guardados por um bando de ferozes eunucos de processo pendente na mão.

O que mais me espanta nisto é que autores como José Saramago e Luís Sepúlveda, reconhecidos defensores dos valores humanos e adversários encarniçados contra o avanço do capitalimo selvagem mascarado de liberalismo económico, homens de cultura, e homens que defendem o acesso à cultura, não tenham ainda, já que estão vivos, possibilitado ao mundo, pelo menos na rede, o acesso a fragmetos dos seus textos. Não me refiro à integra, mas pelo menos a alguns fragmentos de texto que contribuam ainda que levemente para pôr as gentes comuns em contacto com a sua obra e as suas ideias. Senão, essas gentes pobres esperarão desesperançadamente que os silenciados fragmentos apareçam na televisão, filtrados, esquartejados e desenquadrados, num qualquer intervalo entre um Reality Show e uma Soap Opera.
E digo isto porque os textos destes autores, e de outros, me tocam, no seu humanismo desesperado. Estes últimos defensores do Homem contra a economia, contra a estatística, contra a banalização e a mentira fácil. As suas palavras libertadoras estão presas nas próprias malhas com que lutam.